Tenho a dizer que só em Lisboa temos a verdadeira noção do que é um taxi.
Factores de conjuro divino (falta de passe da carris, 10 dias úteis (!) para entregar um novo, Viva! - como não saudar a eficácia do funcionalismo público?!) conspiraram para que estas duas semanas que passaram andasse mais do que o costume de táxi. Sim, sim, gosto muito.
Ora como eu estava a diatribar (Ai Zé Manel, as coisas que me fazes dizer, caramba, o amor por uma mulher leva-nos à loucura, que autêntico disparate!...), o encanto que não é andar a passarinhar por Lisboa táxi dentro! Feita mafarrica!
É que temos um apanhado global, percebem? Ficamos a ver claramente como todos os outros condutores em Lisboa conduzem mal. ("É maluco, o raio do velho! A menina não se ofenda, não?"). Passamos a conhecer intimamente vocabulário com que nunca sonhámos ("tenha juízo, sirigaito..."), manobras altamente perigosas ("Agora estas três faixinhas, não é verdade?"), insultos e comentários vários à condução feminina ("A menina não se ofenda, não?"), pseudo-piadinhas ("Para o hospital? Não é preciso ir a correr, não?"). Lições de Matemática também são comuns ("Então deu-me dez, era seis e sessenta, eu dei-lhe três..."), talvez as minhas preferidas.
De vez em quando o panorama altera-se. Comigo não falam de futebol, não, Deus nos livre e guarde de falar de futebol com uma menina. Não se preocupem que aqui a menina não se ofende. Por isso regredimos no panorama histórico e temos uma valente história de Economia Portuguesa ("que isto o que faltava aqui era outro Salazar!").
Santa mãezinha, fazia cá falta o trolha o Salazar, fazia. Maldita liberdade de expressão, caramba. O pior é que os taxistas gozam-na até ao último minuto. Uma pessoa nem pode ir incógnita, à Lemos, a decorar matrículas... não há direito!
E se eu disser, prometer e jurar que todas as frases entre parentesis são autênticas, verdadeiras e tiradas de momentos de convívio com taxistas?
"Então tenha um bom dia, sim?"